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sabia

Normalmente escrevo minhas crônicas semanais às quintas-feiras, pois às sextas eu preciso enviar meu texto para os jornais nos quais publico. Assim, nas noites de quarta já estou pensando sobre o que escrever, para ir amadurecendo as ideias. Nessa quinta, entretanto, eu ainda não sabia sobre o que escrever quando o dia amanheceu, mas a vida deu um jeito nisso.

No meio da tarde resolvi sair para dar uma volta com as minhas cachorras. Um passeio curto para o bem delas e meu. Logo na saída, antes de virar a primeira esquina, notei uma avezinha no parapeito de uma janela. Vi que se tratava de um filhote de Sabiá Laranjeira, ave muito comum na região onde vivo. Muitos deles, inclusive, alimentam-se das frutas que coloco na sacada e que são disputadas com as maritacas, azulões, pombinhas e a galera da Edileuza (pomba que apresentei ou texto).

Reparei que o filhote, muito manso, ainda não voava e que deveria ter caído do ninho, o qual procurei em vão. Embora os pais estivessem por ali, eram incapazes de levar o filhote de volta ou mesmo de colocá-lo a salvo. Assim que retornei do passeio com as cachorras tratei de procurar o telefone da Polícia Ambiental, para receber orientações sobre como proceder.

De início me frustrei, pois me passaram um outro número de telefone. Como não entendi que a situação era uma emergência, acabei sendo transferida para um serviço de atendimento da Prefeitura que simplesmente não tinha qualquer opção aplicável à situação. Quando consegui ser atendida, por fim, fui informada de que somente faziam o agendamento de retirada de silvestres até as 16h e, como já passava das 16h30, era impossível fazer qualquer coisa.

Desanimador, pois sequer me deram qualquer orientação ou fizeram questionamentos. Então a vida que aconteça dentro do horário comercial. Voltei para pegar a ave e a coloquei dentro de uma gaiola. Na sequência saí para comprar uma mistura especial para alimenta-la e na volta encontrei mais um filhote, um pouco menor, mas provavelmente irmão do outro. Nem tinha o que pensar e até embaixo de um carro estacionado eu me meti para evitar que se machucasse.

Com os dois pássaros a salvo do frio da noite que já se anunciava, dos gatos e cachorros que circulam livremente pelo bairro, preparei um canto da casa longe dos meus próprios felinos e com uma seringa busquei alimentar as duas aves, com algum sucesso e para meu desespero, li que precisaria fazer isso a cada cinco horas.

Racionalmente eu sinto que fiz o certo, pois elas morreriam onde estavam, mas fiquei com muita pena dos pais, privados que foram das crias, incapazes de entender o ocorrido e mesmo de transportar os filhos consigo. Agora, goste ou não, sou responsável por eles e tenho que garantir que sobrevivam e que possam voltar à liberdade tão logo sejam capazes de voar e de se alimentarem sozinhos.

Pesquisando com amigos eu descobri que há algumas opções para onde enviar as aves, de locais nos quais serão bem cuidados, pois aqui em casa os gatos representam perigo constante. Só sei que no que depender de mim, haverá mais dois sabiás laranjeira no mundo, cantores das madrugadas paulistanas e inspiradores de tantas canções.

E se eu pensava que esse seria o único assunto de hoje era porque ainda não tinha ouvido de uma amiga uma história sensacional, digna de uma animação Disney. A sobrinha dela, adolescente, foi visitar uma amiga e eis que o gato da casa depositou um pequeno roedor, um camundongo de cor preta, aos pés da visita que, recebeu tão bem o presente que o levou ao veterinário, vacinou e o transformou em um singular animal de estimação!

O dia hoje, sem dúvida, foi animal.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e tem medo de um dia encontrar um leão abandonado e ser obrigada a leva-lo para casa, pois tem um sofá pequeno – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br