Há alguns anos venho fazendo compostagem com os resíduos orgânicos de minha cozinha. Em três caixas sobrepostas, minhas minhocas tratam de dar fim a cascas de ovos, cascas de frutas, pão seco e outras coisas, transformando tudo em humus e chorume que depois uso em meus vasos, como adubo.
Quando eu conheci o projeto que é desenvolvido em uma praça próxima de minha casa (Praça Pablo Garcia Cantero) aqui na cidade de São Paulo, descobri que há outras formas de se fazer compostagem, sem o uso dos simpáticos nematelmintos. O processo de compostagem termofílica é biológico e transforma resíduos cuja destinação seriam aterros sanitários, em compostos orgânicos ricos em nutrientes.
Para saber mais sobre o projeto, capitaneado por pessoas que além de possuírem formação acadêmica ainda se qualificaram em outros países, como a Escócia, conhecendo iniciativas semelhantes, fui até o local para conversar com eles e verificar in loco o processo de compostagem ali realizado.
Fiquei surpresa com o nível de organização, engajamento e conhecimento do pessoal envolvido. A premissa básica é que haja o envolvimento da população do entorno, o que de fato pude perceber. Semanalmente uma média de quase quarenta famílias leva seus resíduos orgânicos até a praça e muitos se envolvem no processo todo. Há uma autorização da prefeitura local, mas a logística fica ao encargo dos representantes do Programa Permanente Ecobairro e da Associação dos Moradores da Vila Mariana que atuam no CADES do mesmo bairro.
Praticamente tudo é feito com sobras. Pedaços de madeira, restos de podas de árvores de parques, de rua ou de particulares são usados para construir as leiras, que são como pequenos cercados, canteiros, nos quais são intercaladas camadas de folhas secas, palha ou serragem e o material orgânico. Em termos simples, desde que tudo fiquei aerado, proliferam bactérias que decompõem o material, gerando calor. No interior das leiras as temperaturas passam de 60 graus Celsius e isso elimina os patógenos, higienizando a massa da compostagem.
As pessoas que querem participar podem apenas levar o material orgânico de descarte, que será previamente pesado, sendo, em seguida, anotados o nome da pessoa e quantidade, ou podem auxiliar na construção de novas leiras, bem como na alimentação das já existentes. Quando uma leira atinge determinada altura e tempo de compostagem, ela é aberta e o material resultante é usado para adubar as árvores da própria praça.
Depois de conhecer o projeto, resolvi eu mesma participar. Agora, todos os domingos de manhã levo tudo aquilo que minhas minhocas não dão conta e, carregando meu baldinho,
luvas e outros apetrechos, reúno-me a outros tantos moradores do bairro e ajudo a diminuir o lixo caseiro, faço amigos e me integro à comunidade do entorno.
Aprendi ainda que mesmo na cidade de São Paulo há outros locais nos quais estão instaladas composteiras coletivas, bem como em outras cidades e países. Iniciativas como essa, além de auxiliar o meio ambiente de vários modos, ainda integram a sociedade e promovem o exercício da cidadania. Fazer parte de algo que melhora a qualidade de vida das pessoas ao mesmo tempo em que se cuida da natureza, dá uma sensação de pertencimento e um senso de propósito que faz muita falta atualmente.
O que também faz muita falta é um auxílio financeiro, vindo de empresários e outras pessoas preocupadas com o meio ambiente, que seria muito bem-vindo para que o projeto pudesse ter ainda mais visibilidade e se expandisse. Enquanto isso, sigamos no trabalho de formiga, porque devagar também é pressa.