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E no último sábado lá fomos nós de novo para mais um passeio de trem. Dessa vez o destino foi Paranapiacaba. Situada no município de Santo André, a Vila de Paranapiacaba é um roteiro que vale pelo aspecto histórico e pela paisagem. É possível chegar até lá de carro também, mas optamos por fazer o passeio indo de trem, no expresso turístico que sai da estação da Luz, no centro antigo da cidade de São Paulo.

A estação da Luz, aliás, na plataforma de embarque dos trens proporciona a sensação de uma viagem no tempo. Restaurada, a estação é de uma beleza nostálgica. O trem para Paranapiacaba sai aos domingos, pontualmente às 8h30. As passagens precisam ser compradas com muita antecedência, cerca de quase dois meses, eis que a procura é muito grande.

Com velocidade reduzida, o percurso leva aproximadamente duas horas. Após deixar o perímetro urbano, a paisagem se torna mais bonita e em grande parte do caminho o trem desce em meio à mata. A viagem é agradável e em certa altura, com chacoalhar leve e constante, é quase impossível não dar uma boa cochilada antes do apito do trem avisar aos passageiros que já se alcançou a estação final.

No ano de 2017 já havíamos feito esse mesmo passeio, mas o fizemos no fim do mês de maio, quando já estava frio. Dessa vez, desejosos de repetir a incrível experiência anterior, não nos ocorreu que nos últimos dias do mês de abril o clima pudesse estar tão diferente. Dessa vez o calor estava escaldante. O céu, reluzindo de tanto azul, cobria sem sombras as muitas pessoas que por lá circulavam. Era o último final de semana do Festival do Cambuci, uma fruta típica que é usada na preparação de doces, geleias, bolos e outras delícias.

A Vila de Paranapiacaba é cercada pela Mata Atlântica, em parte recuperada. Formada originalmente por ingleses que vieram ao Brasil para construção da estrada de ferro, aos poucos recebeu o acréscimo dos portugueses e dos descendentes dos brasileiros que lá trabalharam como operários. A história do local é riquíssima e não caberia nessas linhas, tampouco eu seria capaz de reproduzi-la de forma a lhe fazer jus, mas ouvi-la dos guias locais já vale a visita.

Embora dessa vez o calor tenha nos privado da neblina que costuma encerrar as tardes, trazendo com ela um sem número de estórias e lendas locais, valeu a pena passear novamente por esse local que parece parcialmente parado no tempo, onde se come morangos silvestres que nascem pelas ruas e onde cães e gatos circulam preguiçosamente entre visitantes e moradores.

Infelizmente muito mais deveria ser preservado e é lamentável ver muitos vagões de valor histórico apodrecendo ao ar livre, sem que haja vontade ou iniciativa política para recupera-los, para manter viva a história. Como país de memória curta, ainda corremos o risco de ir apagando o pouco que nos resta, no descaso que parece nos caracterizar.

Assim, enquanto ainda é tempo, recomendo essa viagem nas entrelinhas do trem até Paranapiacaba que, na língua indígena, significa local de onde se vê o mar...