Fã de livros sobre crimes reais, descobri mais outra forma de consumir esse tipo de conteúdo durante a pandemia, enquanto pesquisava receitas de pão e aulas de aquarela no YouTube: os canais sobre True Crime, como também ficaram mais conhecidas no Brasil tais narrativas.
O conhecimento sobre a mente humana e seus estertores, mas principalmente os meios investigativos utilizados para fazer cessar todo mal que se esconde sob aparências inofensivas de homens e mulheres supostamente “de bem”, ou nas erráticas e quase invisíveis figuras sombrias de andarilhos e solitários taciturnos, é fascinante.
Além disso, ao menos para mim, há a importância de conhecer mais sobre as vítimas, nomes que vão sendo apagados aos montes pelas atitudes egoístas, mesquinhas, insanas e incompreensíveis de tantos criminosos.
E na busca por passar um tempo que parecia tão doloroso quanto incerto, encontrei alguns canais bem interessantes, mas o que mais me chamou a atenção e o qual passei a assistir, indicando para vários conhecidos igualmente apreciadores, foi um que se chamava “O insólito”.
De cara já gostei do nome misterioso e nada apelativo. O apresentador, Marcos Campos, dono de um timbre de voz suave e com cadência impecável, contava (e ainda conta) casos criminais do Brasil e do Mundo, de forma quase literária, com produção de cenários e apresentação de imagens que afastavam positivamente a dureza do tema, sem a exploração indevida e de mau gosto que facilmente acompanham esse tipo de conteúdo.
Em pouco tempo, minha irmã e eu, em nossas ligações diárias por vídeo, já comentávamos sobre os casos assistidos e repetíamos alguns bordões utilizados pelo apresentador. Certa vez, enquanto ouvia mais um relato, notei que o crime havia ocorrido na cidade de Araras, onde vivi por saudosos nove anos, onde ainda vivem minha irmã, cunhado, sobrinhas, muitos outros amigos queridos e onde me tornei cronista.
Naquele momento, porém, não registrei que o apresentador era de Araras, até que recentemente descobri que não somente ele é de Araras, como ainda vive na cidade, ao lado da esposa e filhas. Ao comentar com minha irmã Ivy, igualmente fã do canal, ela me disse: “ah, então é por isso que eu tive várias vezes a impressão de tê-lo visto em alguns lugares por aqui, mas achei que era só alguém parecido”, o que nos fez dar boas risadas.
Assistindo a uma entrevista do Marcos, ouvi sobre como o canal começou, mas especialmente chamou minha atenção a afirmação de que ele havia chegado àquele momento em que se perguntava (ou para Deus) o que havia feito de errado para que nada, ou quase nada, profissionalmente falando, estivesse nos trilhos, até que, por conjunções que só o destino explica, surgiu “O insólito”, canal que atualmente mudou de nome, chamando-se “Marcos Campos” e que tem mais de seiscentos mil inscritos.
Naquele instante, eu, que tantas vezes pensei o mesmo, tive o ímpeto de escrever para ele, que prontamente me respondeu. Agora, querido insólito, o recado quem vai dar sou eu. Fechou? Pois vai vendo, em um mundo ideal não haveria crimes e nem mentes cruéis. Pessoas não pereceriam vitimadas pelo maior lobo do homem. No mundo real, no entanto, o sofrimento não pode ser em vão. As vítimas precisam ser lembradas como pessoas que tiveram suas trajetórias interrompidas e não somente números em estatísticas policiais. Parabéns pelo seu trabalho. Deus escreve certo por linhas tortas, embora muitas vezes a gente não consiga acreditar. Sou somente mais uma inscrita, mas torço pelo seu sucesso.
A você querido leitor, se ainda não acompanha o canal, eu o convido a fazê-lo, sobretudo se aprecia o tema, mas, além disso, porque conhecer a mente humana e as suas torpezas também nos protege da ingenuidade que produz tantas vítimas pelo mundo afora. Insólita é a vida, mas a empatia é o que nos une e nos pode salvar.