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banana

Uma banana colada com fita adesiva na parede. A banana, amarela, parecia estar madura e ser uma fruta ordinária, sem nada de especial. Assim também a fita, prateada, dessas que se pode comprar em qualquer loja de material de construção ou até papelaria. Tal composição, batizada como “Comediante”, foi vendida recentemente em Nova York, pela bagatela de trinta e cinco milhões de reais, a um empresário chinês, como uma obra de arte.

Eu me recuso a pensar que seja a única a achar tudo isso extremamente surreal. O artista responsável por inusitada arte, o italiano Maurizio Cattelan, segundo o que pesquisei, é conceituado, e produziu três delas para questionar o conceito de arte e seu valor. Se era esse o intuito, conseguiu. Como protesto artístico, talvez, atraiu a atenção necessária e comprovou seu ponto de vista.

Compreendo que arte é um conceito aberto e que não pode ser limitado pelo que eu ou você, querido leitor, pensamos a respeito. Até aí, tudo bem. A história recente tem outros episódios bem pitorescos sobre expressões artísticas, a lembramos de uma exposição de fotos de diferentes furicos alheios, entre outras coisas. Até aí, nem tenho autoridade para querer rotular o que pode ou não ser arte e aceito minha ignorância. O que me deixa abismada, porém, é alguém comprar uma banana presa na parede pagando milhões de dólares para isso.

Li dia desses que precisamos parar de normalizar a birutice e concordo plenamente com isso. Neste caso acima narrado, o que leva alguém a dispender tanto dinheiro por algo que, ainda que tenha um valor artístico, sequer vai durar mais do que uns dias. O comprador, inclusive, afirmou que está ansioso por comer a banana. Se o valor for revertido para alguma instituição beneficente ou algo do tipo, a coisa muda de figura, mas, até onde li, não é o caso. Ou, ao menos, quem comprou não o fez com tal propósito.

Algum leitor pode, neste momento, estar pensando que se o dinheiro é da pessoa, ela faz o que bem quiser, o que, em princípio é verdade. Ainda assim, parece-me sem propósito o montante envolvido. Parafraseando um ditado popular antigo: é pouca banana para muito tostão.

Enquanto isso, umas pessoas afirmam que são animais aprisionados em corpos humanos. Estamos falando dos therians, pessoas que se identificam com animais e se comportam como se fossem um. Na internet é possível encontrar vários casos pelo mundo, inclusive brasileiros. Não sou psiquiatra para explicar com propriedade que fenômeno é esse, mas parece-me um modismo de quem procura seus minutos de fama nas redes sociais, inclusive como meio de ganhar dinheiro.

Não se vê therians comendo ração de cachorro, usando a caixa de areia dos gatos, andando nu em pelo por aí. Bicho com celular na mão, gravando vídeo e editando? Falta do que fazer, já diriam nossos antepassados. Se levado pelo lado do humor, consigo entender, mas essa moda tem contaminado adolescentes, que mal sabem o que estão fazendo, pagando de doidos (ou sendo, efetivamente) até em escolas, levando a sério a maluquice.

E em tempo de birutices institucionalizadas, ouso dizer que me sinto bicho muitas vezes ao dia também: uma coruja quando me deito, um galo quando acordo, um cavalo enquanto trabalho e, com mais frequência, uma anta. Neste momento, fico aqui olhando minhas paredes brancas, as bananas na fruteira e uma fita crepe na mesa. Comediante, com certeza, foi o título perfeito para a “revolucionária obra”. Rir ou chorar, agora, é escolha da plateia. E do leitor.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e come bananas – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br