No começo da pandemia vivemos o desespero do desaparecimento de muitos produtos essenciais como álcool em gel, desinfetantes potentes como água sanitária, máscaras e luvas. Além disso, ainda tivemos o inexplicado sumiço de papel higiênico. Após algumas semanas o abastecimento desses itens se normalizou, bem como os seus preços. O que não sabíamos que seria artigo em falta constante era a educação.
Não que a gente tivesse uma expectativa muito alta quanto ao comportamento dos brasileiros, mas a esperança é sempre companheira dos momentos difíceis. Até consigo entender que muitas pessoas, em pânico, tenham saído correndo para comprar tudo o que lhes parecia indispensável, com medo do desconhecido e das privações. A histeria do inexplicável acaba até justificando certos comportamentos, quando não extremos.
A questão é que quase três meses depois do início desse período de isolamento e as pessoas ainda estão agindo de forma inadequada ou até pior. Por mais que as recomendações para prevenção da Covid-19 ainda sejam meio contraditórias de modo geral, já é praticamente consenso que o uso de máscaras evita que quem a use contamine as outras pessoas. Admito que acho quase insuportável usar máscaras, mas sempre que saio no portão de casa que seja, faço uso delas. Confeccionei algumas de tecido, nas especificações recomendadas e me conformei de que, ao menos por ora, são inevitáveis.
Só que não é bem assim para todo mundo não. Tenho visto várias pessoas de cara limpa, andando por aí e interagindo com os demais. Claro que sei que há pessoas que mal tem o que comer e, por via de consequência, também não tem condições financeiras para adquirir materiais de proteção como máscaras e não é a essas pessoas que me refiro. Em muitos estabelecimentos não é permitida a entrada de quem não estiver mascarado, mas nos locais públicos e abertos não há esse controle, lamentavelmente.
Ontem mesmo, enquanto eu estava em um mercadinho perto de casa, devidamente paramentada, uma mulher entrou e se postou atrás de mim, praticamente grudada. Saí de perto e fui olhar outra prateleira, indo em seguida para o caixa. Eis que olho para trás e lá estava a dita novamente, colada. Virei-me e fiz a cara mais feia que pude, esquecendo-me de que estava de máscara, mas acho que meus olhos se expressaram o suficiente para que ela recuasse. Paguei e saí rapidamente do local, mas em tempo de vê-la praticamente debruçada sobre a moça do caixa.
Também não é incomum ver casais usando máscaras e os filhos sem. Gente usando máscara no queixo, no pescoço. Pessoas se aglomerando na entrada de shoppings aguardando a reabertura para encontrar promoções, sem sequer guardar distância de segurança. Certo que as informações que chegam à população tem sido meio confusas e que fica difícil ter certeza de algo, mas para que se expor além do necessário, ou pior, para que expor as outras pessoas?
Acredito piamente que se todos tivessem um mínimo de bom senso, de educação, seria possível voltarmos a maior parte de nossas atividades, desde que seguíssemos as precauções necessárias. Enquanto agora, no entanto, sobra álcool em gel nas prateleiras, faltam “artigos” que o dinheiro não compra e nem garante. Podem inventar uma vacina para a Covid-19, mas não há vacina que extermine a ignorância e o egoísmo. O vírus, assim, não é o único inimigo e nem o mais letal deles.
Cinthya Nunes é jornalista, advogada e anda procurando bom senso por aí –